quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Ser brasileiro

Aprendo a ser brasileiro. Na literatura, diz-se que um narrador distanciado fala com mais propriedade do fato narrado. Aquele caboco apelidado de 3a. pessoa, p. exemplo, que tudo sabe e tudo narra, esse cara tá com uma câmera que tudo vê. Para ver tudo, ele precisa, de certa forma, de se afastar da "coisa" observada.

Aprendo a ser brasileiro. Notei isso desde a primeira vez que cruzei a fronteira, visitando los hermanos hispanohablantes. Viajar é ótimo, voltar pra casa é melhor ainda. No berço, os bebês brasileiros já aprendem a reclamar do país onde vivem. Enquanto mamam, escutam as mães reclamarem da qde de impostos escondidos no preço do leite. Quando pisam na escola, tomam conhecimento do descaso do governo com a educação. Quando vão pela primeira vez a um hospital, ouvem comentários sobre o sistema de saúde impecável dos países do norte europeu. Quando votam, têm absoluta certeza de que escolhem um político com 100%  de chance de ser corrupto e que o Brasil não tem jeito, apesar de todo o jeitinho brasileiro.



Aprendo a ser brasileiro. Aqui, bem longe de casa. Só assim tão longe dá pra ver o Brasil como um todo, porque ele é grande, rico, cheio de cultura, história, vida, energia, paixão. Também no berço, aprendemos que as nossas universidades são sempre piores que as européias, que a tecnologia deles é sempre melhor que a nossa, que se comparada a educação e até mesmo a inteligência deles não temos chance, essas coisas. Esse post não pretende de forma alguma esconder aquilo que temos de melhorar. Por outro lado, que rico sou eu por ser brasileiro e como foi/é importante conhecer o longe pra falar do perto.

Aqui fora os estereópicos típicos são muito fortes. É chato responder sempre se jogo futebol e pulo carnaval, até porque sou reserva na pelada e do carnaval eu pulo fora. É chato responder perguntas sobre a "fartura" das mulheres brasileiras, tentar traduzir letra de funk e dizer que moro em Belo Horizonte, e não no Rio ou em São Paulo. Mas isso é o que se vende aqui, e o(a) vendedor(a) costuma ser brasileiro. Paciência..


Aprendo a ser brasileiro. Nunca gostei tanto de música brasileira, como gosto agora. Nunca gostei tanto da comida brasileira, de misturar arroz, batata, macarrão e todos os outros carboidratos juntos, de comer mexido e tomar suco e café com açucar, como gosto agora. Vou sentir falta da água quente da pia da cozinha daqui, mas sinto mais falta ainda da água gelada da cachoeira que está a 1h de casa. Nunca gostei tanto, como agora, de um abraço brasileiro, de um aperto de mão brasileiro, com força, sem jeito, verdadeiro. Como agora, nunca gostei tanto do improviso brasileiro, de pensar num plano B, C, de não planejar, fazer. Nunca, como agora, gostei tanto de sorrir, falar alto, de dançar, chegar atrasado.

A ser brasileiro, aprendo. A falar brasileiro, português brasileiro. A cantar brasileiro, a ter jeitinho e sotaque brasileiro, ainda que fale alemão. A Alemanha é um sonho, me arrependeria amargamente se pra cá não tivesse viajado. Mas o que torna esse intercâmbio tão especial é ter a passagem de volta pra casa comprada. Como vai ser bom voltar pra casa, como é bom ser brasileiro.

sábado, 6 de novembro de 2010

Fazendo compras

Quando se chega em um país estrangeiro, coisas aparentemente simples se tornam absurdamente difíceis. Exemplo? Fazer compras!



Antes de chegarmos ao ponto às compras em questão, hablemos um pouco sobre a famosa organização alemã, que implica também no fato de que não se vê carrinho de supermercado espalhado em corredores, estacionamentos, ou andando desgovernados rua abaixo.

Warum? Why? Pero, ¿cómo? Por quê, uai?

Motivo simples: bufunfa, dindin, trocado, “plata”, “cafezinho”, moedinha, etc. A estratégia é de fato simples e funcional, como demonstrado na ilustração abaixo. Prende-se um carrinho ao outro com uma corrente, cuja ponta possui um encaixe que só se solta ao colocar uma moedinha de 1 ou 2 euros (varia de supermercado). Isto feito, o carrinho fica à sua disposição e boas compras! Ah, detalhe: o carrinho gira por todos os lados. É incrível, não sei se é azar, mas sempre que vou ao supermercado pego um carrinho que ou não vira pra direita, ou não vira pra esquerda, ou quer simplesmente ficar rodando em círculos. Quer seu dinheiro de volta? Devolva o carrinho no mesmo lugar, na casa dos carrinhos e, após encaixar a corrente, plin! Ele cospe a moedinha pra fora.



Desafio 1: idioma. É muito difícil comprar coisas quando não se entende direito o que está escrito na embalagem. Na escolinha, a gente aprende que Reis significa arroz. No supermercado, a gente aprende que o arroz nunca vem sozinho. Tá sempre acompanhado de uma outra palavra que deixa na dúvida sobre o conteúdo da coisa, por assim dizer.: Langkornreis, Rundkornreis, Naturreis, Milchreis, etc. (em línguas de índio como a alemã, em vez de dizer “arroz natural”, diz-se naturalarroz, tudo junto).

Desafio 2: onde está o Wally? Parece coisa do Mister M. No Brasil, estava acostumado a comprar um produto x, sei lá, açúcar, sempre num saco plástico, com peso variado. A reação natural é procurar o produto pela sua embalagem, e não pelo nome. Erro fatal.. o açúcar do sup. onde compro vem numa caixinha de papel retangular, com um desenho engraçado. Até hoje também não sei por que o sal e o tempero ficam pertinho dos cosméticos.

Desafio 3: Preparar, apontar, fogo! Felipe Massa ficaria com inveja da velocidade com q os vendedores passam os produtos no leitor óptico. Uau, eficiência alemã! Mas.. sabe aquele espaço depois do caixa onde as coisas ficam pra gente empacotar tudo? Ele é minúsculo. Ah, sacola de plástico também num tem não. Ou traz de casa, ou tem que comprar como um produto normal. Resultado, desespero pra colocar tudo na mochila, ou carregar tudo na mão até uma espécie de mesa, onde voltamos a respirar e guardar as coisas com calma. Ah, depois de pagar, o(a) caixa começa a passar a compra da pessoa seguinte, numa maneira sutil de dizer “tchau”.

Quer se divertir num website de supermercado alemão? Tenta esse aqui ó: Kaufland